domingo, 20 de fevereiro de 2011

Pacientes reumáticos estão sem medicamento

MATÉRIA DE O LIBERAL 2010


Os pacientes reumáticos de Belém estão sem receber as doses do medicamento Humira, necessário para o tratamento da artrite reumatóide e artrite psoriática, da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sespa) desde o início deste mês. Cada caixa, com duas ampolas contendo doses suficientes para um mês de tratamento, custa R$ 6,2 mil. O remédio é adquirido pela Sespa em um laboratório fora do Estado e distribuído a cerca de 80 pacientes cadastrados para receber o remédio na Santa Casa de Misericórdia. Sem ele, os pacientes precisam interromper os tratamentos, se sujeitando a dores e problemas de mobilidade graves.
É o caso da funcionária pública Telma Margarida Ferreira Dias, de 39 anos."Eu preciso da medicação para me manter. Se não tiver, eu tenho que tomar medicamentos antiinflamatórios e analgésicos para poder aliviar a dor. Eu fico com dores nas costas, a coluna fica rígida, o pescoço não consegue mover nem pra um lado nem pra um outro. É um sofrimento."
Telma descobriu em 2007 sofrer de uma doença chamada Espodilite Aquilosante, um tipo de inflamação das articulações da coluna e grandes articulações como quadris e ombros. Há seis meses, ela precisou se afastar do trabalho por causa das dores intensas que sentia. "Nós estamos sem o medicamento há mais de uma semana. Eu tive que fazer empréstimo da medicação de um amigo, mas vou ter que repor. Se eu não fizer assim, eu volto ao estágio que eu estava antes, sentindo dores. Era para eu ter tomado dia quatro, mas não tinha. Daqui a quinze dias tenho que fazer a outra medicação e não sei se vai ter", afirma.
Dados da Sociedade Paraense de Reumatologia apontam que aproximadamente 1% da população de Belém sofre de artrite reumatóide, o que significaria pelo menos 15 mil pessoas vítimas da doença só na capital. Mas essa é apenas uma das dezenas de doenças reumáticas existentes. A osteoartrite ou osteoartrose, conhecida popularmente como "bico de papagaio", é a mais comum das doenças reumáticas. Ela destrói a cartilagem das juntas, gerando dor e limitação dos movimentos e, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), atinge cerca de 15% da população mundial, principalmente pessoas com mais de 50 anos.



Doentes participam de associação
Os pacientes reumáticos de Belém que recebem o medicamento comprado pelo Estado são associados ao Grupo de Apoio ao Paciente Reumático do Pará (GARP). Presidente do Garp, a enfermeira Merian Cruz afirma que o custo alto dos remédios impede que os pacientes possam fazer o tratamento por conta própria. Cada ampola custa em média R$ 3,1 mil, e o tratamento mensal, para um paciente, chega a R$ 6,2 mil, valor distante da realidade da maioria deles.
Merian afirma que o Garp buscou informações na Secretaria Executiva de Saúde Pública sobre a falta do medicamento Humira. Ela afirma ter sido informada na Coordenação de Assistência Farmacêutica da Sespa que o medicamento ainda está em fase de compra, mas somente dois terços da quantidade para atender os pacientes foram comprados.
"Não existe previsão. O que nos disseram é para as pessoas ligarem até o dia 15 para se receber uma confirmação de quando o medicamento estará disponível", afirma Merian.
A presidente do Garp afirma, ainda, que esta não é a primeira vez que medicamentos de alto custo para o tratamento de reumáticos faltam. Ela cita o Remicade, também distribuído pelo Estado, que deixou de ser distribuído por dois meses.
Ironicamente, o mês de maio é o que os pacientes reumáticos deveriam receber mais atenção, afirma Merian. Hoje, comemora-se o Dia Internacional dos Portadores de Lúpus, uma doença reumática da lista de mais de 100 identificadas pela Organização Mundial de Saúde. No próximo dia 26, comemora-se o Dia Municipal do Paciente Reumático, instituído por Lei Municipal. "Nós, infelizmente, não temos nada o que comemorar, só o que cobrar", diz Merian.

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